terça-feira, 25 de agosto de 2009

Fugas fugazes

Comentadora disse:
Não há filme que consiga retratar a vida como é; Porque se houvesse, provavelmente seria um fiasco. Todo mundo sempre diz que quer a verdade, mas não aguentam, acabam não gostando.

E isso ficou martelando, martelando. É verdade, mas por quê? Por quê?

E aí, a luz.

Algumas pessoas não são felizes. Não estão satisfeitas. Nada lhes dói mais do que a verdade. É dela que fogem, é ela que relativizam, por vezes com desculpas patéticas, mas suficientemente lógicas para sua gana de auto-engano. Filmes que mostram a realidade são desagradáveis, acabam com os pequenos mitos que tornam suas existências toleráveis.

Porque, ao mesmo tempo em que não são felizes, desejam ser. No entanto, o caminho é árduo, passa pela auto-aceitação, que demanda introspecção (introspecquê?), passa por uma mudança de foco, valorizar mais o que se tem, menos o que se deseja, passa por trabalho e força de vontade, e, como diria São Francisco de Assis (viva o Bom Jesus), serenidade para aceitar o que não se pode mudar, coragem para mudar o que se pode e sabedoria para saber a diferença. O que já é suficiente para que muitos digam “Ah, muito empenho, foda-se”.

E então, infelizes, passam para a next best thing. O auto-engano. A fuga da realidade para um lugar mais legal. Onde se seja feliz. Aí entra Hollywood e toda a mega-indústria do entretenimento. Não é de se espantar que o programa mais visto da televisão seja não o Jornal Nacional, mas um folhetim de tramas previsíveis que se repetem há décadas? Na verdade, não. Ver o folhetim é a forma que muitas pessoas encontraram para ser feliz. Por algumas horas por dia, ser o macho-alfa, o cara-não-estagnado. É bem mais fácil que se tornar um macho-alfa e desestagnar sua própria vida, afinal. Carros que viram robôs, cara! Uma fuga fugaz. Uma forma de aplacar suas angústias. Uma droga. Uma nova Soma para um novo admirável mundo novo. Quem há 50 anos diria que o ser humano passaria, em média, 4 horas por dia na frente de uma caixa preta de imagens e sons? (Mas lembre que um cara com a cabeça num forno e os pés num freezer está com a temperatura média normal... então há quem passe muito mais tempo hipnotizado).

E aí, a ironia suprema: os filmes usados para fugir da realidade em nada ajudam a pessoa a pensar sobre sua vida, mas os dramas, relegados a uma segunda opção quase relutante, podem nos ajudar a entrar contato com nossas próprias angústias, sendo um bom método de diagnosticá-las e saná-las. E, em as sanando, a tornar-se um ser humano bem resolvido, que não precisa fugir da realidade, pois ela se tornou tolerável, agradável até.

Fim.

Entenderam por que ela merece posts dedicados?


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3683 visitantes de 22 países em 19 dias de vida. Sucesso absoluto de público e crítica. Acho que deus mandou dinheiro para o real madrid comprar o kaká para que o Gustavo pudesse pôr o vídeo no blog, deixar os crentes com o ânus em chamas e aumentar nosso sucesso. Acho mesmo. =D

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