sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Retratos

Como poucos sabiam e agora todos sabem, há algum tempo eu venho ensaiando um romance. Pois bem, a primeira crítica mais, digamos, qualificada, chegou, e foi relativamente positiva. Ressalva: pareceu-lhe episódico, um retrato, e não um filme.

Pus-me a pensar. Sobre filmes, sobre a vida. O que é um filme, senão um episódio? Um capítulo? Nossas vidas vão muito além de um filme, são vários, milhões deles, mas para a maior parte de nós, passam despercebidos. Nem todos entram na fortaleza de Sauron para destruir o Um Anel e devolver a paz à Terra-Média, afinal. Nem todos terão a oportunidade de passar uma tarde em Paris com seu único grande amor. Nem todos passam por uma provação durante a qual crescem e amadurecem, percebem que tudo de que precisavam estava próximo, amigos viram inimigos, inimigos se fazem de amigos, ex-amigos voltam a ser amigos e a amizade prevalece, o mal ou o sofrimento é vencido e superado, e da qual se sai, não antes de algumas reviravoltas, mais forte, mais esclarecido e com uma melhor compreensão do que são a vida e as pessoas. Não.

Mas, ao mesmo tempo, temos nossos momentos de glória. Epifanias individuais, grandes vitórias pessoais, sucessos pequenos, mas significativos. Uma crônica depois de horas encarando o papel branco. Um ensaio depois de dias de reflexão. Sempre há um momento em que renúncias e sacrifícios mostram seus resultados. Pode ser positivo ou não tanto, e mesmo isso depende da interpretação e das expectativas. Cada uma dessas situações poderia ter sido um filme, mas não acho que alguém veria “A epifania”, um filme sobre a compreensão de um elemento existencial, com uma câmera e um personagem em vez de “Transformers”. Carros que viram robôs, cara! Talvez em Sundance...

Tudo isso pra dizer: vivemos uma série de episódios, só não nos damos conta. Primeiro porque não lhes damos importância, “são coisas por que todo mundo passa” e segundo, porque são concomitantes, simultâneos. Não percebemos quando começam ou terminam.

Finalizando, talvez, considerando esta situação, um retrato seja mesmo a melhor forma de falar sobre tudo isso. Talvez seja uma forma de mostrar que mesmo quando “nada acontece”, acontece muita coisa. Pequenas, mas significativas, para cada um de nós.


Vê-se muito mais num retrato que num filme, que nada mais é do que 24 fotos por segundo. Um romance sobre o micro-universo diário de uma vida.


Grande conclusão ou a maior racionalização de uma crítica dos tempos modernos? Comente!

Post dedicado à primeira seguidora, comentadora e pessoa com coragem de admitir que favoritou nosso blog.

2 comentários:

LucyKN disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Eu também favoritei o blog. Fiquei com ciumes, quero um post pra mim também HAUHAUHAUHA